
Somos a sensação de que somos, só isso.
A vida é o que sentimos dela, e não há por isso vidas tristes, apenas sentimentos tristes.
A felicidade objectivamente não existe, e é assim que existe em nós.
Somos o que sobra do que nos acontece, tirem daí o que quiserem — ou puderem.
Todos temos aquilo de que precisamos, mas nada há de mais humano do que precisar do que não se precisa, precisamente.
Há dias que pesam, fugas urgentes para fazer.
Hoje apetece-me desistir de sobreviver, deixar que os braços — e a esperança — caiam. Os heróis não são os menos desistentes, somente os que desistem quando ninguém está a olhar. Agora vira-te para lá uns segundos, por favor.
A excitação entedia-me: quão frustrado tem de ser aquele que não se contenta com a monotonia? A vida comum é a que fica na história, mesmo que não fique nos livros.
Pergunte-se a quem mudou o mundo o que mais amou na vida e ele não responderá mais do que uma trivialidade.
Não é da vitória que se sente falta, antes da taça de champanhe que ela traz. Tem mais influência no futuro do planeta uma camisa bem passada do que uma decisão de um Supremo Tribunal qualquer, por mais que eu odeie engomar.
O rico pensa ser livre só porque vive numa jaula — ou duas ou três ou quatro — de luxo.
Somos criaturas feitas de ironia: amamos a liberdade que nos oferece termos as coisas que nos impedem de sermos livres.
O dinheiro não evita a felicidade, apenas a atrasa — ou, na melhor das hipóteses, a esconde na parte de trás de uma alegria de grife, uma felicidade enlatada, grande lata.
Nexo: s.m. Diz-se que está presente naquilo que faz sentido — o que, bem vistas as coisas, não tem sentido nenhum. Muito do que nos faz felizes exige tanta coisa, mas não exige nexo.