
A dactiloscopia, disciplina que trata de impressões digitais, é capaz de ser uma das técnicas policiais mais conhecidas pela opinião pública, graças à divulgação no domínio ficcional, seja televisão ou seja em cinema e, também, pelo seu êxito retumbante enquanto prova judicial de valor quase indiscutível.
Cumpriram-se há poucos dias 107 anos desde que, em Portugal, foi possível identificar alguém através das impressões digitais. Tratava-se de um recluso, evadido da Penitenciária de Lisboa. Apareceu morto e foi recolhido para a então Morgue de Lisboa, mais tarde transformada em Instituto de Medicina Legal.
Ali, num departamento designado por ‘Repartição de Polícia Científica’ vários médicos dedicavam-se à investigação forense em vários domínios, desde a bioquímica à balística. Rudolfo Xavier da Silva era um desses estudiosos que especializara em dactiloscopia, influenciado pelas sucessivas descobertas que outros estudiosos europeus tinham conseguido no domínio das cristas e modelos dactilares. Galton, Vucevicth e, sobretudo, Bertillon, entre outros, não só haviam demonstrado a impossibilidade de haver duas impressões digitais iguais como criaram métodos para a sua classificação e posterior comparação. A ficha antropométrica organizada por Alphonse Bertillon, conhecido criminalista francês, serviu de padrão para instituições, científicas ou administrativas, que precisavam de sinais de identificação precisos. Nela constava a filiação, quando possível a fotografia, a alcunha, a naturalidade e as impressões digitais.
Foi com o auxílio de uma destas fichas de identificação que Rudolfo Xavier da Silva fez história. Recolheu as impressões digitais do cadáver, comparou-as com aquelas que se encontrava no Instituto Antropométrico junto da Penitenciária e conseguiu entregar uma identidade àquele desconhecido. Só anos mais tarde os tribunais reconheceriam tal perícia como prova credível. Porém, do ponto de vista científico tornou-se num momento de glória, tendo a dactiloscopia integrado o naipe de aulas sorteadas em provas de doutoramento em Medicina. Hoje é um mero apontamento histórico. Porém, abriu as portas a uma Justiça mais rigorosa, marcando toda a história do séc. XX.