
As notícias que vão chegando sobre a situação que se vive na Santa Casa da Misericórdia são, para o cidadão comum, momentos de grande estupefação. Já se sabia que se transformara num albergue para políticos em pré-reforma ou em serviço de reserva. Ninguém ligou a isso. Sabe-se que desde as administrações de empresas públicas, institutos e instituições do domínio público até administrações de grandes empresas privadas, a carreira partidária era currículo suficiente para albergar os desvalidos da sorte com cargos e mordomias de luxo. Não são dois ou três casos. É uma história com décadas. A ser verdade existem centenas de chefias com salários superiores ao de ministros. A ser verdade, a maioria destas chefias são quadros dos partidos que governam o País há meio século, exaustos aspirantes de comissões concelhias e distritais que não viram os seus esforços compensados pela real e fulgurante luz da política.
Nunca mereceu grande atenção pública esta verdadeira retaguarda do combate político partidário. A Santa Casa é o grande casino nacional. Diariamente entram nos seus cofres arrobas de dinheiro oriundo dos mais variados jogos que se vendem em todo o País, das raspadinhas ao Euromilhões, do Totoloto ao Totobola, vendidos em tabacarias, postos de combustível, papelarias num rendilhado tal de oferta que, julgo, não português que não tenha contribuído para essa imensa caixa de esmolas.
É com espanto que sabemos que Santa Casa da Misericórdia está em risco de rutura. E o caso (ou os casos) são tão graves que a Provedora, agora demitida, meteu o Ministério Público ao barulho. E o novo governo não fez por menos. Demite a Provedora e exige saber como foi possível que este imenso armazém de recolha de dinheiro esteja com uma mão à frente e outra atrás.
Dizem coros da tragédia que esta demissão se deve ao facto deste governo querer imediatamente ter um lugar seguro para a recolha dos seus apoiantes para que vivam com mais conforto. Seria indecente, porém, pelos vistos, a indecência está banalizada naquela Casa de pecado. Dizem outros que, agora, é de vez. Querem pôr tudo em pratos limpos e terminar com a colónia balnear que tem servido para acolher militantes sem futuro. Citando um Santo da igreja, resta-nos esperar para ver o que dali sai. E ver para crer.