
Virar a página de cada ano, possui uma carga simbólica de tal modo intensa, que se festeja a aparência do renovar da Vida. Passadas as festas, tudo volta à simplicidade dos dias, às rotinas quotidianas, o regresso à mesma labuta e aos mesmos quotidianos. Por maiores e mais exuberantes que sejam os votos que se cruzam, os êxitos que desejamos para nós e para os amigos, as felicidades repetidas em milhões de sms’s e de postais, o tempo devolve-nos com alguma crueza a realidade sem enfeites, nem prendas. E o País continua, inexorável, com as mesmas dificuldades e desafios para vencer.
O Presidente da República pediu-nos, particularmente a quem nos governa, a reinvenção de Portugal. Confesso que não percebi como imagina que se reinvente um País onde são tão frágeis os sinais de coesão, onde o Estado é, ainda, mais frágil que os cidadãos. Compreendo a nobreza do pedido, temos que não tenha eco nas práticas de 2018. Ninguém sabe como se reinventa o combate ao flagelo dos incêndios quando as estruturas são as mesmas, os homens são os mesmos, o sentido de responsabilidade é o mesmo. Não sei como se reinventa uma Justiça célere, um sentimento de segurança mais forte com os mesmos tribunais encharcados de processos, com as mesmas polícias escassas de homens e sem dinheiro para reparar carros, para investir em meios, inventando em 2018 como o fazia em 2017, verdadeiros fazedores de milagres. Não sei como se reinventará a reinserção de reclusos com cadeias atulhadas, sem horizonte no que respeita à integração futura dos reclusos de hoje.
Não sei como tudo isto se fará quando as cabeças que nos governam hoje, pensam como pensavam o ano passado, há dois, dez anos, presos ao vínculo premente de não perder o poder em vez de o usar para a grande reinvenção que Portugal precisa há décadas. Mas gostava de saber. Por isso, transportando este pessimismo impenitente, que faça um esforço para acreditar que é possível. Que 2018 nos traga mais paz, sabedoria e conforto. É o que lhe desejo, caro leitor, neste tempo de renovação da esperança. Feliz 2018.