
A história é arrepiante. Sobretudo quando se olha para idade dos assassinos e para o móbil do crime. Um tem dezoito e, o outro, dezanove anos. A vítima era mais menos da mesma idade.
Segundo a Acusação procuravam estes dois rapazes cobrar uma dívida de 250 euros. O jovem devedor não tinha como pagar. Pelo menos naquela hora. Garrotaram-no e mataram-no a murro e pontapé.
Não é nenhum filme. Não é nenhuma ficção de mau gosto. Aconteceu aqui. Em Portugal. Na Quinta do Conde. Os dois jovens estão a ser julgados no tribunal de Setúbal.
É certo que a culpa é de quem matou e a eles devem ser imputada a responsabilidade criminal sobre o sucedido. Em matéria criminal, essas duas dimensões da nossa existência social é individual.
Dito isto, deixem-me ir mais longe, para refletir sobre outras culpas e outras responsabilidades. Que raio de sociedade estamos nós a construir onde uma vida pode valer duzentos e cinquenta euros? Que mitos estamos a produzir, que construção de valores, no que respeita à ideia de Bem e de Mal estamos a transmitir aos mais jovens. É certo que não podemos generalizar. Este brutal homicídio não é a medida de todas as coisas. Porém, se o entendermos no mesmo tecido social onde crianças são abandonadas, ou mortas, pelos pais, por mulheres assassinadas no quadro da violência doméstica, temos de concluir que o valor da Vida é diminuído em detrimento de outros valores que legitimam a violência gratuita, a violência em excesso, a banalização da própria violência.
Há muito que as teses dos clássicos marxistas perderam o sentido sobre a violência necessária para transformar uma sociedade através do conflito da luta de classes. Recordo Georges Sorel que escreveu sobre essa matéria. Estou em crer que a velha (e saudável) conflitualidade ideológica deu lugar ao conflito, à agressividade sem limite, como forma de poder individual, de afirmação do indivíduo, não no território da cidadania, mas através da força e do desprezo pela vida dos outros. Se é por aqui que caminhos, será tempo de pensar que futuro queremos para os nossos filhos e netos.
Francisco Moita Flores