
Antes de evocar qualquer outro episódio, saliente-se a tragédia do fogo. Nunca em Portugal, desde que existem registos, houve coisa assim. Cento e oito mortos, mais de quinhentos mil hectares de mata e floresta ardida, centenas de empresas destruídas, centenas de habitações, milhares de cabeças de gado, põe Pedrógão Grande e, três meses depois, o tristemente célebre 15 de Outubro no topo dos acontecimentos que marcaram a vida portuguesa.
A resposta do Estado a estes eventos fatídicos foi de tal modo débil e incompetente que, pela primeira vez, foi publicamente reconhecida a frágil e miserável resposta pelo Presidente da República. Passados meses sobre os dois desastres ainda se fazem estudos, ainda se apuram responsabilidades enquanto, na maioria dos casos, as vítimas e seus familiares esperam a reacção das autoridades ao flagelo que sobre o País se abateu.
O segundo acontecimento, que pôs a nu a negligência de quem nos governa, foi o assalto ao paiol de Tancos. Com laivos anedóticos. Naquela que deveria ser uma das unidades militares mais vigiadas do país, desapareceu um sem número de armas e explosivos. Haveriam de ser descobertos meses mais tarde. Com um bónus. Os ladrões abandonaram mais material de guerra do que havia sido roubado. Pelo meio ficaram desculpas esfarrapadas. Generais promovidos e demitidos, uma grande algazarra parlamentar e, até hoje, ainda não se sabe quem foram os assaltantes.
Finalmente, a novela vergonhosa que se desenvolveu sob a tutela do ministério da Saúde e que conduziu à morte de seis pessoas e à enfermidade de um grupo bem maior, infectados com legionella, num hospital lisboeta. Gente que ali acorreu para tratar da saúde e que teve como resposta serem mortos pelo ar condicionado do hospital. Responsáveis? Não existem ou deles não se deu conta. De facto, o povo é sereno.
Feliz Natal!