
Concluímos esta semana a resposta às muitas perguntas que me são enviadas sobre a necessidade de realizar autópsias para a descoberta de homicídios, considerando, até, alguns dos nossos leitores como uma profanação do morto. Este exame é de natureza médica, realizada por técnicos preparados sob a orientação de um médico legista. Isto é, um médico que interpreta as lesões e as causas da morte à luz das preocupações de índole penal, retirando conclusões que, mais tarde, vão servir ao tribunal para melhor apreciar o caso e, sobretudo, à investigação criminal para recolher informação que lhe permite perseguir melhor o homicida.
São infinitas as informações que um cadáver pode dar sobre quem foi o seu agressor, se teve ou não intenção de matar e, até, em alguns casos, se a morte teve uma causa natural sem que tenha existido um crime.
Nas mãos das vítimas, entre as unhas, ficam cabelos, sangue, pele do agressor que por comparações de ADN pode determinar o autor. Ficam sinais da entrada e da saída de projécteis que nos dizem da posição relativa entre vítima e agressor. Ficam sinais de pólvora, se foi usada arma de fogo e o disparo foi à queima-roupa.
Encontram-se muitas vezes os projéteis que foram disparados para matar e que, mais tarde, o Laboratório de Polícia Científica pode comparar com outros projéteis, não só identificando o tipo de arma que disparou como pode levar esta exame até à precisão de concluir que foi determinada arma e só aquela. É certo que a autópsia completa começa na cena do crime, recolhendo vestígios do crime. E não se reduz a um exame macroscópico do hábito externo e interno do cadáver.
É de tal maneira importante este exame forense que não são raros os casos de corpos que entram como tendo sido vítimas de morte súbita e depois se revela que foram vítimas de homicídio. Portanto, não é um exame vulgar ou gratuito. Interpretar a morte de uma vítima é a melhor maneira de a respeitar porque contribui para entregar ao tribunal quem lhe retirou a vida e, assim, ser julgado com rigor e segurança.