
Os dias de mau tempo, que estamos a atravessar, têm produzido vários desastres e acidentes e já provocaram algumas mortes. Costuma usar-se a expressão brincar com o fogo quando alguém se atreve a decisões ou acções mais ousadas, associando a força devastadora do fogo à ideia de morte. Infelizmente, no ano que findou, tivemos bem presente essa realidade que transformou a metáfora em tragédia real.
Nos dias que agora correm, bem se pode dizer que com a água não se brinca. Basta ver as imagens da explosão do mar em fúria contra a costa para termos a percepção da violência das águas. É uma fúria que enfeitiça e seduz curiosos fascinados pela força dos elementos. Por mais que sejam os avisos, por maior que seja o perigo, a imprudência é bem maior do que a sensatez e, em vários casos, na ponta dessa curiosidade está a morte.
Quando se discute os limites entre a liberdade e a segurança há, naturalmente, a tendência para sublinhar a importância da liberdade em detrimento de acções que a podem restringir. Um Estado securitário é quase sempre um Estado totalitário ou para lá caminhando.
Porém, quando somos confrontados com a fúria do planeta em episódios pontuais, como é esta vaga de tempo feito de tempestades e da violência das águas, é bom ter em conta que a expectativa da melhor fotografia do mundo não pode arrastar ninguém para a morte. E Portugal, país de mares e oceanos, dono de uma história trágico-marítima bem grande, tem essa memória profunda da agressividade das águas.
Portanto, meu caro leitor, aproveite a tempestade para apreciar os elementos em fúria, para se espantar, e até fotografar, aspectos extraordinários da violência climática. Mas com reserva. Com a cautela que lhe dirá que o mar é fartura, aventura, sonho mas também é traição, morte e lágrimas. Como diz o aforismo, cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.