
As relações e reflexões da Igreja sobre a sexualidade são dos momentos mais terríveis na história desta instituição eclesial e com a qual continua sem acertar o passo. Em nome de preconceitos. Nunca em nome de Deus. Por cada passo que dá em frente, quase sempre tíbio e medroso, insiste em dar dois à retaguarda.
Vem isto a propósito do avanço, e foi um grande avanço impulsionado pelo Papa Francisco, não excluir casais da comunhão da Igreja. O fim de uma atitude brutal, quase obscena, que não percebia que os tempos marcados pela laicidade e pela progressiva descristianização são tão imparáveis que recristianizar só é possível no contexto de uma comunidade que se reconstruiu com mitos, experiências, bem longe do tempo em que o poder, como sublinhava Oliveira Martins, era uma aliança entre o trono e o altar.
As palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa sobre a contaminação sexual desta nova ordem eclesial não são compatíveis com a inteligência e com a cultura que se reconhece a este bispo da Igreja. Não é possível ler sem ficar embasbacado o apelo à continência sexual dos casais católicos que recasaram para redimir uma presunção de pecado na intimidade de pessoas que se amam.
É certo que a Igreja não acerta o passo. No que respeita ao celibato dos sacerdotes. Uma interdição tão brutal e desumana que apenas abre as portas ao escândalo com que muitas vezes a própria Igreja é confrontada. Hoje, à luz da história comparada de outras instituições eclesiais com diferentes credos, não existe um único argumento que legitime este medo pela sexualidade assumida dos pastores católicos. Hoje, não existe um único argumento, para além da fome de poder e da misoginia, que continue a interditar as mulheres aos magistérios sacerdotais. É, no quadro de combate em defesa da igualdade de género, um dos mais tristes exemplos que chegam da instituição que determina a moral dominante. É tempo de cardeais perceberem os novos tempos. Antes que os antigos preconceitos matem uma instituição decisiva nas nossas vidas de cristãos.