
Subiu a temperatura. Começaram os incêndios. As mesmas imagens arrepiantes. O mesmo sofrimento. A mesma aflição. Temos os olhos cansados da repetição, ano após ano, deste espetáculo de destruição e morte. Monchique tornou a arder. Quase dois mil hectares. A floresta e mata que, há uns anos, o primeiro ministro apresentava como ato de propaganda. Os trabalhos de proteção e segurança ali realizados, salvaguardariam a serra de incêndios. Tem sido aquilo que se vê. Ano após ano, arrasada pelo fogo.
A lição que a política deve tirar destes eventos fatídicos é de não os explorar para fazer demagogia. A lição que o País devia aprender será da necessidade urgente de entregar ao interior do País as ferramentas para o desenvolvimento, a única forma de os combater pois não somos capazes de exterminá-lo.
Vivemos junto ao Mediterrâneo, região onde são comuns os incêndios nesta altura do ano. Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia são ciclicamente atingidos por estas tempestades de fogo. É uma visita anual com a qual convivemos há séculos. Porém, não deixa de ser paradoxal que este confronto entre os elementos naturais e os homens, não evolua para níveis mais sofisticados de proteção. Não apenas de natureza tecnológica, nem com a crescente preparação dos corpos de Bombeiros, experimentados e valentes, mas trazendo no bojo o olhar para dois terços do País, quase sempre abandonado à sua sorte.
É extraordinário que, ainda hoje, se estabeleça um determinismo inexorável entre interior-agricultura. Com vias de comunicação fabulosas, com barragens e albufeiras, rios equilibrados, terrenos não poluídos, não se percebe como se governa para as cidades do litoral, ignorando o resto do País. É certo que ao cinismo político interessam eleitores e daí a irrelevância do País envelhecido e despovoado. É urgente investir no futuro. Nos recursos. No potencial de energia adormecido. Repovoando. Com regras tributárias diferentes para quem investe no difícil. Talvez um dia, haja a coragem para perceber que os fogos se combatem com a apropriação da terra e nunca com o esquecimento.