
Esta semana tive oportunidade de assistir, em Espanha, ao verdadeiro choque que foi o desaparecimento do menino Gabriel Cruz. Um estremecimento nacional e vários colegas, ansiosos por compreender que destino teria a criança desaparecida, falavam comigo evocando o caso da pequena Maddie.
É certo que não existe um caso igual a outro. Diferem sempre as circunstância e os protagonistas, porém a Espanha viveu uma comoção nacional, ansiosa e interessada em saber como desaparecera a criança, tal como aconteceu no nosso país quando desapareceu a menina inglesa.
Já estava em Portugal quando soube a trágica notícia. Gabriel estava morto, assassinado, ao que tudo indica pela madrasta, e que foi presa em flagrante quando transportava o cadáver do miúdo na bagageira do carro, mudando-o de lugar para que a polícia não o descobrisse. Quem viu as imagens do funeral, a multidão que se juntou para saudar Gabriel pela última vez, percebe que a violência de um crime desta natureza não envolve apenas os familiares mais próximos. Espanha chorava por Gabriel. Assassinado, segundo dizem os jornais, por motivos fúteis e pela mulher em que o pai confiava para ajudar na sua educação.
Não são raros estes crimes entre pessoas que partilham a mesma intimidade. Em Portugal, nos últimos anos, soubemos de várias mães que mataram os filhos. No entanto, são tragédias tão terríveis que não deixam ninguém indiferente. Mesmo aqueles que não conhecem as vítimas.
O caso Maddie veio-me à memória várias vezes durante estes dias. Porque me lembrei de uma campanha de intelectuais de café e gin que escreveram e disseram as mais despudoradas mentiras feitas da mais pura ignorância. Atiravam-se ao então Coordenador Gonçalo Amaral por ele ter colocado a hipótese de ser alguém do grupo que a acompanhavam quem, eventualmente, a pudesse ter assassinado e escondido o cadáver. Pois que os pais não matam os filhos, diziam os sábios. Gabriel é mais um exemplo desse analfabetismo sapiencial. Que descanse em paz!