
Em 2012, o ministro do governo espanhol, Luis de Guindos, comprou uma moradia no valor de seiscentos mil euros. O Podemos, partido irmão do Bloco de Esquerda, moveu uma campanha contra o ministro deixando insinuado que só era possível tal aquisição com o aproveitamento da sua condição de governante. O homem teve que se explicar perante a onda de ataques que o Podemos desencadeou, sob a liderança de Pablo Iglésias.
A história foi agora recuperada. Qual o motivo? É que Pablo Iglésias, o justicialista e populista de ontem, o defensor de uma moral pretensamente proletária, comprou agora um apartamento pelo mesmo preço que o Luis de Guindos comprara. Ao saber-se desta contradição, estoirou um estendal de críticas contra Iglésias e o seu partido, à boa maneira leninista, abriu um debate interno sobre o comportamento do seu líder.
Dou de barato os negócios dos dois políticos. Nada nos levar a supor que qualquer dos dois tenha comprado os seus apartamentos com dinheiros sujos. Foram opções de vida que dizem respeito aos próprios e que não deveriam merecer discussão pública para além da informação razoável.
O que está em discussão é o paradoxo da putativa moral revolucionária apregoada pela extrema-esquerda, que se julga detentora de um património de honestidade e probidade que mais nenhuma força possuí e, por isso, se permite dar lições do alto de uma cátedra inventada. Em Portugal o mecanismo comportamental é idêntico. E mais obsceno. Para os bloquistas não existe qualquer dúvida que a Direita é corrupta, que todos os seus actos e gestos estão sob suspeita e basta uma bagatela, como são o caso das falsas licenciaturas, que na verdade são lamentáveis, para logo se perceber esta moral de estrume. Se foi um político de direita apanhado nessa moscambilha, cai o carmo e a trindade. Se for um político de esquerda, o silêncio é de ouro.
A moral é património de um grupo de eleitos. Tal como a decência. Coisa que não se vê em Espanha, nem em Portugal.