
A prisão do ex-Presidente da República do Brasil é uma gota de água, num Estado dominado pelo poder negro da corrupção. O actual presidente Michel Temer espera a sua vez de ser detido. Assim como a maioria dos congressistas que, de uma forma ou de outra, estão enleados em processos de corrupção. A verdade é que o juiz Sergio Moro estilhaçou algumas engrenagens desta terrível epidemia, que torna bandido o próprio Estado, mas está bem longe de sanar o problema essencial.
No canal Netflix corre um docudrama, intitulado The Mecanism, que explica, ainda que de forma parcial, o esquema que há décadas, muitos antes da chegada de Lula da Silva ao poder, mina a autoridade democrática brasileira. É simples. Os políticos nomeiam para cargos em empresas directores de confiança que, por sua vez, determinam a quem são entregues as obras públicas de maior vulto a troco de uns milhares de dólares.
Estes empreiteiros, usam esses contratos para pagar campanhas eleitorais e favores pessoais a políticos. É uma pescadinha de rabo na boca. Se cair um director outro de confiança o substituirá. Se cair um político, outro aceitará o suborno, e o jogo, numa lógica implacável de cumplicidades e traições aos juramentos de serviço publico, que cruza todos os partidos e atinge toda a sociedade brasileira.
A operação Lava Jato atingiu este modelo através das empresas de construção. Apenas cortou um braço do polvo. Se pensarmos nas necessidades de um Estado e da necessidade de colaboração com grandes empresas, deduz-se que outros tentáculos vivos e viçosos estarão vivos e cheios de saúde. As grandes farmacêuticas, as grandes empresas de novas tecnologias, aquelas que estão ligadas ao armamento e à defesa, têm o seu mecanismo próprio e intocável, não existe uma única notícia que os seus interesses estejam a ser investigados. Referi estes sectores de actividade apenas como exemplo. Existem outros seguramente.
Dito isto, surge a pergunta: E em Portugal? Como é que é? Não sabemos o que se passa. Apenas pressentimos. Haverá um dia em que encontraremos o Mecanismo que nos atinge.