
Conforme se vão conhecendo os factos sobre crianças adoptadas em circunstâncias que, tudo indica, foram arrepio da lei portuguesa, mais sórdido se torna o caso e maior é a repugnância pelos mecanismos de poder da auto-intitulada Igreja Universal do Reino de Deus. Notícias que revelam uma rede de tráfico de crianças baseada na mentira e na ausência de escrúpulos, explorando a fragilidade de pais e mães crentes no absurdo miraculoso da instituição.
Provoca repulsa. Porém, esta enorme árvore onde se mistura crendice e crime, tende a tapar a floresta. E a floresta esconde os técnicos de acção social, magistrados, juízes que, há cerca de vinte anos, permitiram que tudo isto acontecesse com a complacência, para não dizer corrupção, do próprio Estado.
A maioria dos crimes, que agora têm sido divulgados, estão prescritos. Isto é, já não é possível perseguir criminalmente quem, à data, abusou do seu poder para entregar crianças, sabe-se lá a troco de quê, à IURD. Porém, é preciso que se saiba quem foi. Se ainda está em funções. Se continua a gerir crianças em risco e quais os critérios que tem tomado para que, em primeiro lugar, estejam os superiores interesses do menor adoptado.
É preciso que se saiba até onde chegou o desleixo, a ausência de critério, a prática de eventuais crimes. E, sobretudo, é preciso que se saiba se, ainda hoje, esses funcionários, ocupam posições decisórias no que respeita à gestão de crianças em crise familiar.
Em segundo lugar, é urgente que se investiguem as práticas, os processos, as finalidades empresariais da IURD. A lei da Liberdade Religiosa é muito permissiva em relação aos vários credos, com isenções de fiscalização, nomeadamente tributária, que não se aplicam ao comum das empresas e instituições. Mas não pode existir tal lei de forma a admitir, ou permitir, a prática de crimes. Investigue-se. Já chega de crimes cometidos em nome de Deus.