
A construção do caos passa sempre pela criação prévia da sua imagem. O País foi surpreendido, nas vésperas da Páscoa, pelos efeitos da greve dos camionistas de matérias perigosas. Os abastecimentos de combustíveis em bombas, aeroportos e demais infraestruturas básicas ficaram em risco.
A possibilidade de cada português ficar sem gasolina ou gasóleo juntou-se ao perigo de os transportes públicos pararem, e rapidamente todos percebemos que, se nada fosse feito, os súper e hipermercados ficariam, em menos de nada, com prateleiras vazias, e os hotéis, os restaurantes e os cafés nada teriam para vender.
Mais tarde ou mais cedo, cada gota de combustível seria motivo de conflito potencialmente perigoso. Ora, este processo de deslaçamento social acelerado resulta de dois fatores básicos: ninguém estava preparado, e ninguém planeou alternativas para situações de emergência.
No primeiro caso, foram também os jornalistas e as televisões que falharam. A greve estava marcada desde 1 de abril. Salvo raras exceções, o trabalho de antecipação não foi feito. Já sobre o falhanço do planeamento, coube ao poderoso ministro Pedro Nuno Santos assumir a humilhação de ter de negociar à pressa para terminar com a greve e restabelecer a normalidade. Porque as imagens do caos, em diretos sucessivos, já tinham quebrado o ânimo dos portugueses. E a imagem do caos é a etapa decisiva para a sua instalação.
RODAPÉS NA TVI E NA SIC
Não é uma inovação, até porque se trata de uma presença constante no cabo, mas tanto SIC como TVI fazem agora uso das mensagens em rodapé no ecrã com grande intensidade. Os rodapés promovem, lançam intervalos, fazem de locutores de continuidade do século XXI. Uma melhoria de aplaudir que aumenta a eficácia da comunicação com os espectadores.
TODOS CONTRA CRISTINA
Ao entrarem no jogo da contabilização de audiências com e sem Cristina Ferreira, tanto Goucha, como Cerqueira Gomes, como, em geral, os responsáveis da TVI mais não fazem do que ajudar à consagração da apresentadora da SIC como nova rainha da televisão generalista. Na verdade, é o que ela é, mas não caberia à concorrência reconhecê-lo.
MADEIRA E SRI LANKA
Duas tragédias bem distintas, tanto nas causas como nas consequências. No acidente com um autocarro turístico,
a mobilização das televisões nacionais foi positiva e rápida. Aos poucos, os canais portugueses melhoram a capacidade de resposta e começam a dar melhor prova de si. Isso é bom serviço público. Na série de atentados no Sri Lanka, em que voltou a correr sangue português, talvez a distância justifique o menor investimento televisivo, mas na verdade não houve um trabalho de descodificação nem de acompanhamento como costuma haver em atentados noutras latitudes.
OS LIMITES DE TÂNIA
A estreia de Tânia Ribas de Oliveira à frente das tardes da RTP foi à imagem do canal – cinzenta, não aqueceu nem arrefeceu. Tânia é uma profissional honesta e dedicada, que merece todo o reconhecimento da empresa em que trabalha. Mas não tem dimensão de apresentadora de primeira linha, uma limitação que até pode ser mais assacada à RTP e à sua incapacidade de criar estrelas, do que à própria. Para já, tem aqui uma oportunidade de ouro para crescer.