
No início do ano, foi aqui antecipado que a crise na informação dos privados iria colocar o Telejornal na liderança. Já está. O noticiário do canal 1 ganhou janeiro no seu horário, com 21,6% de share de segunda a sexta-feira, e continua a subir em fevereiro, com 22%, contra 19,4% da SIC e 19,7% da TVI.
Nos canais derrotados, a desculpa preferida das direcções de informação é o chamado "acesso": a má herança da grelha dá derrota do jornal. Isso não explica tudo.
Veja-se o fenómeno Portugal em Directo, que arranca da terra e lidera. Deixemos, portanto, as desculpas, e procuremos as causas desta viragem histórica. Na informação, o sucesso depende de três factores: apresentação, alinhamento e conteúdo.
A junção de Adelino Faria ao melhor pivô das televisões em sinal aberto, Rodrigues dos Santos, deu à RTP a necessária renovação geracional de pivôs, com SIC e TVI agarradas a opções conservadoras. No alinhamento, o Telejornal é mais ágil: cada notícia raramente tem mais de minuto e meio, e a linguagem é acessível a todos.
Os grandes dossiers e as reportagens alargadas vão para programas à parte. Mais importante: os conteúdos. Na TVI, o principal problema é a falta de independência. Em momentos-chave, na economia, na política, na justiça ou na finança, o espetador sente o desconforto jornalístico do canal. Já na SIC, o impulso da nova direcção parece esgotar-se, sem deixar semente de inquietação.
Assim sendo, a RTP 1 construiu a imagem de maior independência. Um património valioso, que não pode ser perdido por nenhuma decisão de conveniência.