
O jogo Baleia Azul não é novidade. Tem provocado ferimentos e mortes em vários indivíduos, sobretudo em jovens, como agora aconteceu em Pedrógão Grande. Um cidadão britânico de 35 anos acabou esfaqueado naquela zona do País. É um de entre vários jogos que põem em risco a vida dos jogadores comandados por ordens que surgem na rede social que determinam quase sempre comportamentos de risco.
É uma doença dos novos tempos a relação que muitos jovens e adultos possuem com o telemóvel e as redes sociais. A obsessão conduz à distopia onde a realidade é engolida pelo mundo virtual, onde o fantástico e a novidade, e a necessidade de obter coisas novas, leva a experimentações que vão para além da razoabilidade, surgindo nichos de assédio sexual, de relações imaginários, de poder e de subjugação que iludem a necessidade de conhecer o Outro, na medida que ele é a rede, é o avatar, o que diz piadas, o que interpela.
Hoje são muitos os jovens que perderam o poder da linguagem, mesmo nas relações normais e equilibradas, optando pelas mensagens, pelo envio da voz gravada, descarnando relações, como se o próprio corpo já só fizesse sentido se estiver diluído na amálgama virtual que hoje convive, e até supera, as relações sociais construídas com pessoas de carne e osso.
Por outro lado, o vício na rede social é potenciador, não só do silêncio, como da solidão. A demissão do uso da palavra, trocando-a pelos dois polegares que se agitam sobre o teclado, aliena e isola. E bem se sabe que as dificuldades de socialização estão muitas vezes associadas a esta "fala dos dedos" onde, numa ausência real, a presença é virtual.
Hoje, as escolas discutem se permitem o uso de telemóveis. Pelo que se sabe é um tema que move paixões. Porém, julgo que a proibição ou não dos aparelhos é, em si mesmo, a procura de soluções radicais. Não há como vencer o mundo virtual. Está aí. Impregnado de virtudes e defeitos graves. E se a escola ensinasse a lidar para o uso da máquina que nos leva a alhear da vida real?