
A hecatombe que está a ocorrer em Lampedusa, na Itália, com a ilha sobrelotada de migrantes, muitos deles pescados no Mediterrâneo para serem salvos de afogamento, confronta-nos com um dos maiores desafios que a Europa está a viver: por um lado, a integração dos refugiados; por outro, o combate às redes de esclavagistas e assassinos que atiram multidões para o mar em barcaças velhas, indiferentes à vida dos ocupantes. É um negócio de escravos.
As respostas europeias a este imenso drama são frágeis, muitas vezes cínicas, e a maioria das vezes aplicando medidas tão brutais sobre este exército de infelizes que mais parecem as dos mercadores de escravos.
Compreendo a aflição dos governos italiano e grego, sem condições para dar resposta a ajuda humanitária tão necessária para quem chega. Não consigo entender como esta verdadeira traficância de seres humanos não é prioridade conjunta das forças de segurança europeias para prender e julgar os mercadores de escravos. O programa que atualmente existe, o Frontex, para a proteção das fronteiras da União Europeia e do espaço Schengen, não chega para o desafio que, todos os dias, o Mediterrâneo oferece. E, sobretudo, é difícil de entender que uma Europa envelhecida, necessitada de repor saldos demográficos com mão-de-obra que contribui para o trabalho de cada país, não responda com frontalidade ao crescimento da xenofobia que o populismo barato descarrega sobre aqueles que são diferentes. No caso português, por exemplo, é graças à chegada de não naturais que se está a recompor o deficit demográfico, a animar o trabalho, sobretudo no mundo rural onde, há muito, o envelhecimento das populações facilitou o empobrecimento dos campos.
O que falta nisto? Planeamento nas políticas de emigração, escrutínio burocrático de investigação mais célere, criação de projetos de desenvolvimento possa integrar a força de trabalho que vai chegando. É tempo da velha Europa, preguiçosa e envelhecida, olhar com energia para aqueles que podem ser mais-valias para o crescimento dos Países.