
No turbilhão de conhecimento que atravessamos, profundamente perturbados com a revolução cibernética, incapazes de orientação, confundimos conceitos, não temos capacidade para perceber as transformações que cruzam os nossos quotidianos e damos por nós sem conseguirmos perceber os nossos próprios comportamentos e muito menos os dos nossos filhos e educandos.
É vulgar encontrar pais que exaltam as virtudes dos seus filhos – o que não é de estranhar – com um conforto especial. A explicação é invariavelmente a seguinte: é muito sossegadinho. Não brinca na rua e passa o tempo fechado no quarto em frente ao computador.
Decidi escrever sobre meninos sossegadinho depois de uma experiência que vivi esta semana. Participei num debate sobre violência doméstica. Num friso superior do salão, contei vinte e um jovens entre os treze e os dezasseis anos. Apenas um deles, não tinha telemóvel. Os restantes passaram mais de duas horas ensimesmados com os telemóveis, seguramente a disfrutar as redes sociais. Pode argumentar-se que a qualidade dos palestrantes não os entusiasmou. Pode ser. Porém, vi naquele grupo de jovens aquilo as palavras que se repetem quando oiço alguns pais a falarem de filhos sossegados. Sobretudo, quando crescem casos associados às novas formas de comunicação que multiplicam exponencialmente os crimes de abuso sexual, de pedofilia, de rapto e sequestro de menores fascinadas por avatares, envolvidas em amores electrónicos, não físicos, que, muitas vezes, descambam em sofrimento e tragédia.
Nada tenho contra as redes sociais. Nada tenho contra a modificação dos hábitos de adolescentes. Não escreverei uma linha para amaldiçoar a internet. Porém, estou convencido que o excesso de consumo deste novo instrumento de ócio, de prazer e de trabalho, empobrece radicalmente os meninos sossegados que dispensam o brincar, o jogar, o convívio interpessoal, fantasiando relações sociais, descuidados dos riscos que obrigatória a vida nos impõe. Particularmente, quando pais e educadores se desinteressam sobre quem são os amigos virtuais que tanto fascinam a geração do telemóvel. O amor não é sinónimo de complacência. Para educar exige-se amor firme e atento.