
Aos 60 anos, a RTP enfrenta o desafio mais difícil da sua existência. A concorrência dos privados, a expansão do cabo e o triunfo da Internet chegaram a criar a ilusão de que a própria existência da televisão do Estado estaria em causa.
Uma ideia absurda: o País nunca esteve disposto a abdicar do seu Canal 1, mesmo quando não o vê. Mas as indefinições sobre o modelo de programação e a relação mal resolvida com as audiências têm amarrado a RTP a uma crise de identidade que não consegue ultrapassar.
Fracassados todos os planos de privatização, é tempo de recolocar a discussão nas suas bases mais simples.
Primeiro: os portugueses terão de continuar a pagar a RTP, se a quiserem manter. Assuma-se isso frontalmente, de uma vez por todas, até para quebrar o tabu sobre o fim da publicidade nos canais do Estado.
Segundo: as décadas de discussão sobre o que é o serviço público revelaram-se inúteis, e criaram angústias existenciais que paralisam a empresa. É tempo de a RTP perceber que a sua missão principal não é definir teoricamente o que é o serviço público. É praticá-lo todos os dias, em todos os horários. Só a fazer televisão de serviço público se define o que é esse mesmo serviço público.
Ou seja: o caminho faz-se caminhando. É a única forma. Eis algumas ideias simples: não aceitar o inglês no Festival da Canção. Não apostar em chamadas de valor acrescentado nos programas que fazem companhia aos idosos. Não insistir em filmes indianos nas tardes de família. Quando se descrevem estes erros, um a um, alguém tem dúvidas sobre de que lado deve ficar uma televisão de serviço público?