
Este inverno deu viço às teorias da conspiração, excitou a discussão mais ou menos tonta, escorada no preconceito, na fé partidária (do seu partido, claro está!), elaborando discursos fantasiosos que, por vezes, raiam o ridículo. Não tenho espaço para os escalpelizar. Apenas deixo duas ou três notas sobre a verdadeira barafunda que estamos a assistir.
Primeiro, não creio num ataque da Justiça à vida política, que tem motivado rugidos de alguns importantes responsáveis pela nossa vida pública. Nada aponta para que a 'Operação Influencer' quisesse ser uma invasão metediça, e sobretudo ilegal, na vida do Governo da República. Na verdade, ao contrário do que a propaganda quer esconder, o processo terá pernas para andar, como indicam as medidas de coação impostas a alguns dos arguidos. Também, não surgiu nenhum dado, para além do falatório vulgar, que indique uma agenda política nesta ação contra alguns líderes da Madeira. Para compor o ramalhete conspirativo, soube-se da decisão da Relação sobre a Operação Marquês, coisa que já se previa para este período de tempo.
Apenas um cimento une estes três processos. Nenhum deles foi objeto de julgamento. E uma pergunta inquietante os abraça. Saber quando serão julgados, sendo certo que vão demorar bastantes anos até se chegar ao fim desta novela.
Sabe-se como a morosidade na Justiça a descredibiliza. Não só na Justiça penal. E sabe-se que as estruturas mais sólidas do Estado de Direito se sustentam num aparelho judicial ágil e expedito.
Ora, este seria o momento certo, pois estamos em pré-campanha eleitoral para refletir, construir modelos, revelar propostas que cada Partido, e correlatos comentadores, para modificar esta situação. Mais juízes? Mais Procuradores? Mais funcionários judiciais? Revisão dos prazos inscritos no Processo Penal? Não vale a pena culpar a Justiça, fazendo crer que só o partido Chega ganha com estas demandas a cair em catadupa. Estou convencido de que é o contrário. Tivessem os partidos herdeiros do 25 de Abril os olhos postos na substância das coisas e não na espuma dos dias e, por certo, não chegaríamos a este ponto, onde as eleições que iremos viver se tornarão no lugar onde se lambem as feridas, em vez do momento em que se agarra um futuro mais justo.