
Já se percebeu que, até março, as agendas noticiosas vão estar marcadas pelo frenesim palavroso da campanha eleitoral. No número anterior desta Revista dediquei-me, com algum enfado, a sublinhar a tristeza vazia que nos espera. Porém, estamos no início de mais um ano, e é tempo para assinalar um dos grandes desafios, que vai atravessar o séc. XXI e que seria mais acertado dedicar-lhe parte significativa da nossa atenção e ação reformadora. Refiro-me aos tão maltratados direitos da Terra que, dia após dia, ano após ano, são destruídos com a violência desnecessária que só os seres humanos conseguem alegremente produzir.
O grau de destruição é conhecido diariamente, como se quiséssemos correr cada vez mais rápidos para o apocalipse. O degelo, a desflorestação, a desertificação e a diminuição de ecossistemas equilibrados multiplicam a fome, o desaparecimento das espécies, grandes movimentos migratórios de homens e animais. A escassez de água potável, a diminuição de grandes territórios de vegetação, o terrível desequilíbrio gerado pela entropia destes movimentos, a que se associa a mais ignóbil e obscena concentração de riqueza, são, no seu conjunto, o caos por onde definha o Planeta.
As instâncias internacionais concordam que é necessário um esforço conjunto de todos os povos para fazer regredir o desastre. Concordo. Porém, não posso deixar de recordar George Orwell, ao olhar para este frentismo mundial onde os mais poderosos (e os maiores criminosos ambientais) se propõem a avançar de braço dado com as outras vítimas do desastre ecológico, pois que se percebe, que muitos são vítimas de poucos.
Louvo António Guterres, secretário-geral da ONU, por ter a coragem de liderar com clareza e coragem o mais terrível desafio que a Humanidade enfrenta. E junto-lhe o Papa Francisco, cujas palavras são punhais: "Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e de estruturas económicas injustas, que originam as grandes desigualdades."