
A Polícia deu notícia de que a atividade dos gangues subiu cerca de dez por cento em comparação com o ano que findou. Não é novidade. A célebre Escola de Chicago estuda este fenómeno da multiplicação dos gangues nas grandes metrópoles há um século e, em França, a atividade destes grupos mereceu reflexão profunda nos últimos 40 anos.
Política e Polícia nasceram do mesmo étimo – pólis – que deu origem à palavras politiké (política) e politeia (polícia). Dito de outro modo, se a política é a arte de administração da pólis (cidade), a polícia é um seu instrumento administrativo ou securitário que controla as relações da política com o povo.
Ao optarmos por sociedades abertas a não naturais, a política criou condições para que outras culturas, outras gentes, com diferentes visões do mundo se instalassem, particularmente nas duas grandes metrópoles, ajudando, no caso português, a repor saldos fisiológicos que a diminuição da natalidade e do envelhecimento colocara em déficit no que respeita à demografia e à força de trabalho. Porém, esse positivo crescimento humano acarreta condições complexas de vivência comum. Fenómenos de hétero exclusão e de autoexclusão multiplicam-se conforme se multiplicam frustrações e se anulam expectativas quer a quem chega, quer àqueles que já cá estão. Quase todos eles associados à capacidade de absorver diferenças culturais, étnicas, religiosas e, particular, resistências linguísticas.
É neste caldo de contradições, e eminentemente político, que surgem grupos marginais associados ao desenvolvimento de culturas diferenciadas, como é o caso da música com o jazz, o rap ou o hip-pop. Outro desses efeitos é o surgimento de outros grupos, não só marginais como delinquentes em conflito com as comunidades em que se encontram. E, subitamente, o problema deixa de ser da política para pertencer à polícia. Esta rutura levanta desde logo a questão de saber onde é que falha a política, exigindo intervenção policial. É a questão que abordaremos na próxima semana.