
Muita correspondência que recebo está associada a crimes contra as pessoas, a problemas de toxicodependência e, sobretudo, sobre os métodos para desvendar homicídios. É aqui que surgem muitas questões relacionadas com as autópsias. Alguns leitores revelando o horror que essa ideia lhe traz, outros que não percebem a obrigatoriedade desta perícia, ainda muitos outros que se questionam sobre a necessidade de tal ‘violação’ do morto.
Não respondendo a todas as questões, espero, pelo menos deixar claro alguns pontos.
Em primeiro lugar é preciso que se saiba que a autópsia é um exame médico. No entanto, nem todas as autópsias estão relacionadas com crimes ou acidentes. Quando se trata de compreender qual a patogenia que determinou a morte de um indivíduo, por ausência de competência médica para diagnosticar a causa do óbito, realizam-se autópsias clínicas. São do foro exclusivo da medicina, para a compreensão de falecimentos incompreensíveis ou que exigem investigação científica. A autópsia que os nossos leitores questionam é de outro tipo. Chama-se autópsia forense ou médico-legal, e procura pesquisar que tipo de lesões conduziram à morte de determinada vítima por determinação de um agressor externo.
Foi um célebre médico francês, chamado Bichat que, nos inícios do séc. XIX, lançou o célebre grito hipocrático, num jornal parisiense, ‘Abram alguns Cadáveres’, querendo com isto dizer que o exame autóptico revela de forma clara, por via da intervenção médica experimentalista, a razão do morrer sem que este acontecimento tenha, como tinha até então, explicação do terreno divino. Na verdade os mortos ‘falam’. E não mentem. De certa forma, podemos dizer que esta medicina experimental abriu as portas do futuro para aquilo que é a medicina dos nossos dias. O conhecimento do corpo, da sua anatomia, da sua fisiologia, lançando luz sobre enigmas que de outra forma não se compreenderiam a não ser da multissecular luta entre Deus e o Diabo.
No que respeita aos homicídios é, atualmente, um exame que não sendo decisivo é fundamental para a demonstração de uma agressão violenta causadora da morte. Disto trataremos na próxima semana.