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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

A violência banal

Nunca foi tão longe a exposição acrítica da crueldade, a vulgarização de cadáveres, de destroços de edifícios, de mães e crianças em lágrimas, expostos sem recato, sem a reserva intelectual que permite separar o belo do horrível, num jogo de ilusões de que ali se concentra todo o mal do Mundo. Nem percebemos como somos manipulados nesta paródia da contrainformação, da propaganda travestida de informação.
03 de abril de 2022 às 06:00
Guerra na Ucrânia
Guerra na Ucrânia

Aguerra na Ucrânia é um paradoxo em termos de informação. Num tempo em que as redes sociais, o império das imagens, a ausência de filtros editoriais permite seguir, quase ao instante, os graves acontecimentos desencadeados por Putin contra o povo ucraniano, criando a aparência de que tudo sabemos sobre aquilo que se passa no terreno, na verdade, pouco ou nada sabemos sobre factos, apenas das narrativas que sobre eles se constroem. A banalização da violência, fê-la entrar no são convívio das realidades que são os nossos quotidianos. Nunca foi tão longe a exposição acrítica da crueldade, a vulgarização de cadáveres, de destroços de edifícios, de mães e crianças em lágrimas, expostos sem recato, sem a reserva intelectual que permite separar o belo do horrível, num jogo de ilusões de que ali se concentra todo o mal do Mundo. Nem percebemos como somos manipulados nesta paródia da contrainformação, da propaganda travestida de informação. Não admira, pois, que perante tanto relato, que carece de confirmação, de tantos mortos, que carecem de confirmação, de tantas baixas, que carecem de confirmação, de vitórias, que carecem de confirmação, de derrotas, que carecem de confirmação, estejamos a ser levados para o território da ficção, de um fabuloso inferno de falsidades, onde aquilo que era a anormalidade, hoje é tido como normal. Diria mais, como uma vulgaridade.

Assim, não surpreendem as mil explicações dadas pelo Kremlin para justificar a guerra. Disseram que ia desnazificar e comportam-se como os exércitos nazis. Disseram que a Ucrânia não existe, enquanto país, mas afinal, só lhes interessará abocanhar uma parte do território. Repetem que querem negociações e, no mesmo instante, aumentam os bombardeamentos contra inocentes, heróis da barbárie, sem vergonha pela palavra. Compreende-se. Neste tempo das imagens, as palavras empobreceram, perderam o significado mais profundo, substituídas pelas visões da destruição e morte, servidas a qualquer minuto do dia. Até parece que caminhamos para uma demência coletiva. Para alienação completa em relação às nossas próprias vidas, em rápida degradação social e económica, fascinados pelos espetáculos macabros que nos proporcionam os senhores da guerra. A palavra Paz está vazia de sentido. É no que dá a banalização da violência.         

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