
Sabia-se que a invasão da Ucrânia pelo exército russo iria desencadear uma guerra desequilibrada. De um lado uma das mais poderosas armadas do Mundo e, do outro, um país mal preparado para a guerra. Não admira, pois, que Putin tivesse previsto a vitória militar em cinco dias com a rendição incondicional da Ucrânia. Porém, os planos saíram furados. O conflito encaminha-se para as três semanas e, pese a devastação e as atrocidades cometidas pelo invasor, os ucranianos resistem.
Perante a barbárie, que as televisões de todo o Mundo, mostram em direto, além da imensa tragédia humana que é o êxodo de milhões de inocentes, ouvem-se vozes, creio que movidas pela compaixão, a pedir aos ucranianos que deponham as armas e se rendam.
É um exercício de pura piedade. Não pode ser levado a sério. Basta imaginar uma analogia. Por mais críticas que façamos ao nosso País, à forma como é governado, ao modo como é conformista no que respeita ao seu subdesenvolvimento, não seria apenas o exército que se levantaria em armas para o defender perante uma invasão. O povo não se submeteria a uma potência com a qual a nossa gente se identificasse, quer na Língua, quer nos comportamentos, quer na memória comum.
São estas raízes comuns que dão força, entregam paixão, que motivam aqueles que, sabendo que vão ser vencidos, resistem e morrem pela sua terra. Porque ela é o património que dá sentido à existência, o argumento inabalável de tudo quanto se viveu, o futuro em potência, dos filhos e netos dos combatentes.
Não é possível deserdar ninguém da nossa terra. É um chão igual a tantos outros. Mas é o chão da memória dos ucranianos. Que os impulsiona para a resistência, para o combate, para morrerem em nome de um património espiritual que é pertença comum. Mesmo que Putin consiga esmagar o furor das armas pela força das suas. A resistência persiste. Como acontece com qualquer outro povo quando assim é esmagado pela força.