
Há uma vertigem de demência na construção humana que o provoca insistentemente para que manifeste o ser caráter predatório. Sendo o único animal que conhece o poder devastador da morte, com consciência da sua própria finitude, é o único que mata, ou manda matar, sem causa de sobrevivência. E passados tantos séculos, sobretudo o século XX, com aprendizagens e conhecimentos cada vez mais sofisticados, é na guerra que encontra o maior estímulo para assumir o seu papel no Mundo.
Não se pode excluir desta fome de violência quem a partilha, quem a divulga, quem impacientemente a aguarda. A guerra não é apenas o conflito entre dois, ou mais, personagens da História. Surge sempre como excitação coletiva, como se um fio de alegria assassina nos colocasse em cada festa da morte e da destruição. Agora é a Ucrânia. Ainda não há muitos meses, foi o Afeganistão. Para além de outras menos mediáticas que, um pouco por todo o lado, flagelam o planeta. Os protestos para a paz são frágeis, o impulso para o conflito é irrefreável.
O psicodrama que hoje se vive em torno da Ucrânia é, antes do mais, o maior exemplo de que os donos do poder, nada aprenderam com as duas tragédias de proporções inimagináveis, que se forjaram nas duas guerras mundiais recentes. O que está a preparar naquele território é um insulto à memória de dezenas e dezenas de milhões de vítimas que deixaram a Europa de luto e destruída. O Poder é, nas suas finalidades últimas, assassino. Predador e cruel. Com um fascínio lúbrico pela morte.
Esta página é demasiado simples para que se torne num eco que possa arrebatar milhares ou milhões de pessoas para qualquer movimento a favor da paz. Mas não deixará de apelar à paz e contra os desígnios os Senhores da Guerra. Todos nós somos partículas da mesma Humanidade e, sabe-se, que nascemos para o amor, para o encontro, para viver sem medo da destruição alegre que ciclicamente nos é imposta pelos imperadores do Mundo.
Foi isto que Ele nos ensinou. Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.