
Não há palavras para descrever a tragédia de Pedrogão Grande. O País emudeceu de espanto ao ver as imagens de destruição, a mortandade, a aflição de tanta gente sem destino, com o passado em chamas e sem um pedaço de futuro a que se agarrar.
Ninguém se lembra de tragédia assim. Aliás, nunca acontecera em Portugal um incêndio que matasse tanta gente.
Quando escrevo estas linhas, ainda o inferno está instalado naquela zona do País. Ainda os mortos não foram sepultados e já começam os primeiros sinais da dança de embustes no que respeita ao apuramento de responsabilidades. A Polícia Judiciária descobriu que foi uma faísca resultante de uma trovoada que fez deflagrar a catástrofe. Desta vez não existe dedo acusador a um qualquer incendiário. Porém, sem andar sofregamente atrás da culpa e dos culpados, não se percebe como foi possível tamanho desastre, durante tantos dias, com tanto apoio internacional. A sensação com que se fica, perante tamanha destruição e dificuldade em parar a força avassaladora do fogo, é que não estamos protegidos. A nossa Protecção Civil não sai bem nesta fotografia. Por maior que tivesse sido o zelo, sente-se, ou melhor pressente-se incapacidade de reacção organizada. Dou um exemplo. Ás tantas saiu a notícia de que caíra um avião de combate a incêndios. Até foi divulgado que o piloto era inglês. Passadas algumas horas um dos responsáveis fez uma conferencia de imprensa a desmentir o noticiado. Segundo ele, não caíra nenhum avião, embora ele tivesse decidido ao saber da notícia em enviar uma equipa de socorro e salvamento. Para onde? Se o avião não caiu, que raio foi fazer a equipa de salvamento?
Este tipo de reacção é reveladora do estado de desorientação, de confusão que atravessa as chefias desta operação de combate ao incêndio.
Se é verdade que ainda é cedo para rever responsabilidades, não se pode aceitar as declarações políticas que se esboçam para fugir a este confronto com a Vida. Para que haja um mínimo de dignidade em relação a tantos mortes.