
O poder e a televisão estão ligados. Qualquer líder político precisa de aparecer para impor a sua imagem. O ecrã dá-lhe palco para assegurar a prevalência dos seus argumentos. A televisão é condição essencial para o exercício da governação democrática. É isto que transforma num caso de estudo as férias de António Costa.
O chefe de Governo retirou-se de cena na semana passada, numa altura em que a crise emocional dos portugueses atingia o cúmulo, em virtude da tragédia de Pedrógão Grande e da falência do Estado, indiciada pelo furto de material militar na base de Tancos. A ausência súbita do primeiro-ministro configura um erro comunicacional gravíssimo. Será mesmo? Vejamos: tal como a política, a televisão tem horror ao vazio. O resultado da ausência de António Costa foi o triunfo momentâneo do caos e do ruído no espaço público do debate democrático. Multiplicaram-se os discursos, as acusações, os argumentos.
A cacofonia triunfou e a cacofonia é o ambiente ideal para a culpa morrer solteira, porque impede a atribuição racional de responsabilidades. As férias do primeiro-ministro desfocaram tudo. Subitamente, a polémica foi elevada à categoria de espectáculo de mau gosto, com as sucessivas trocas de acusações, as audições à porta fechada, as visitas aos locais destruídos, as pífias imagens do início do fogo prometidas, sem sentido, pela RTP, no Sexta às 9. Uma tragédia com uma dimensão humana gravíssima fulanizou-se em redor das férias de Costa. Desaparecer para confundir, e assim reinar. Seria essa a estratégia? E será que resultou?