
A história conta-se em meia dúzia de palavras. Um miúdo necessitou de fazer uma análise à garganta. Os vestígios recolhidos foram colocados numa lâmina para exame laboratorial. O resultado desse exame não se conhece. Porém, soube-se que fora detetado um espermatozoide na boca da criança. Daí até à colocação de que o menino estava a ser vítima de abuso sexual foi um passo. A PJ a investigar o caso. O pai e o avô da criança suspeitos de abusarem do miúdo, exames de ADN aos dois, uma família alvoroçada, notícias sobre notícias da criança abusada. Porém, a PJ não acertava naquela história. Qualquer coisa não estava certo. Aprofundou a investigação e o resultado foi um choque.A lâmina utilizada pelo laboratório para fazer o exame fora mal lavada e, antes da análise á criança, fora usada para um exame de esperma de alguém estranho a este caso. Veio, agora, o Tribunal da Relação impor uma indemnização de 270 mil euros a pagar pelo referido laboratório à família da criança pelos danos causados.
Admito que não sei quantificar dor e sofrimento e fazer o câmbio para euros. Não sei se o tormento vivido por esta criança e por esta família, a humilhação do pai e do avô, o clima de dúvida e desconfiança gerado entre pessoas que se amam, estilhaçados por um erro de terceiros vale a condenação. A crer na sapiência dos juízes, estará certo.
Porém, aquilo que não está certo é este laboratório continuar de portas abertas. Como não é possível controlar a assepsia dos seus instrumentos de trabalho, não espantará que outras análises saiam trocadas, que alguém com gripe venha de lá com um cancro, alguém com uma infecção pulmonar, não saia com um tumor no estômago. Indemnizar a família, foi uma decisão justa. Permitir que este laboratório continue a trabalhar é inadmissível.